Brumadinho e o “sinistro” do Meio Ambiente

As primeiras imagens, tristes e revoltantes, indicam que o rompimento da barragem da Vale na ‘Mina Feijão’, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, pode ser consequências ainda mais graves do que o crime ambiental de Mariana, em 2015. Até o início da noite desta sexta-feira (25), o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais havia confirmado quatro feridos e mais de 200 desaparecidos. A onda de lama deve atingir até 19 municípios mineiros. Reportagem de Leonardo Fernandes, no jornal Brasil de Fato, mostra a gravidade da tragédia. Reproduzo alguns trechos:

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Embora a quantidade de rejeito de mineração vazada da barragem localizada no município de Brumadinho seja menor do que a despejada sobre o Rio Doce em dezembro de 2015, os danos socioambientais serão grandes. O alerta é feito pelo biólogo Renato Ramos. “As informações são muito desencontradas no momento. A gente vê informações de que são um milhão de metros cúbicos de rejeito, outras de que pode chegar a até 13 milhões de metros cúbicos de rejeito. É uma proporção muito menor do que aconteceu no desastre de Mariana, mas também é um desastre severo”, alerta. 

Ramos é responsável por um estudo, em parceria com o geólogo Sófocles de Assis, e que aponta que 19 municípios mineiros devem ser atingidos pela onda de lama. São eles: Betim, Brumadinho, Curvelo, Esmeraldas, Felixlândia, Florestal, Fortuna de Minas, Igarapé, Juatuba, Maravilhas, Mário Campos, Morada Nova de Minas, Papagaios, Pará de Minas, Paraopeba, Pequi, Pompéu, São Joaquim de Bicas e São José da Varginha. Segundo os pesquisadores, é possível que a pluma chegue até a barragem de UHE Retiro Novo, próximo a Três Marias. 

Ao Brasil de Fato, os especialistas afirmaram que já vinham trabalhando no estudo das consequências do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, e por isso puderam elaborar rapidamente um prospecto do impacto dessa nova tragédia. Esses estudos poderiam, por exemplo, evitar que a lama chegue ao Rio São Francisco, provocando um dano ainda maior. “A gente está pensando nesse momento que uma medida para conter o fluxo da lama é fechar a barragem de Três Marias. Ali tem um reservatório muito grande e talvez a quantidade de água que existe ali depure a lama, segura ela, que seria depositada no leito do reservatório. Isso ajudaria a não impactar o restante do Rio São Francisco”.

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Diante do grave crime, o segundo em curto espaço de tempo cometido pela empresa privatizada Vale, muita gente – inclusive os bolsonaristas menos tapados (se é que eles existem) – deve ter ficado preocupada com o futuro da questão ambiental no novo governo. Jair Bolsonaro sempre tratou com desdém o tema. Prova disso foi a indicação de um capacho dos ruralistas e dos devastadores para o cargo de ministro do Meio Ambiente. Logo que foi anunciado, Ricardo Salles, ex-secretário do tucano Geraldo Alckmin e fundador da seita fascistoide Endireita Brasil, deu uma entrevista na qual disse que “o Ibama é uma fábrica de multas”. A idiotice causou a demissão de Suelly Araújo, presidenta do órgão responsável pela fiscalização das empresas.

O novo ministro pode agora até fazer demagogia com a tragédia de Brumadinho, mas ele nunca teve qualquer compromisso com a questão ambiental. Pelo contrário. Ele inclusive já foi condenado por crimes nesta área. Em 19 de dezembro passado, a Justiça de São Paulo ordenou a suspensão de seus direitos políticos por um crime de improbidade administrativa quando era secretário de Meio Ambiente de São Paulo. Como registrou na ocasião o jornal Estadão, “a decisão foi tomada pelo juiz Fausto José Martins Seabra, da 3.ª Vara da Fazenda Pública, sobre ação do Ministério Público que acusava Ricardo Salles de ter favorecido empresas de mineração em 2016. O futuro ministro do Meio Ambiente teria acolhido mudanças feitas nos mapas de zoneamento do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Tietê”.

O presidente-capetão Jair Bolsonaro, que ainda engana muito otário com suas bravatas sobre a corrupção, havia dito que não nomearia condenados em primeira instância em seu governo. Ele mentiu e manteve Ricardo Salles mesmo após a decisão da Justiça. Na prática, ele pagou a dívida com a cloaca burguesa que viabilizou sua chegada ao governo. O líder do Endireita Brasil foi uma indicação dos ruralistas e dos empresários – inclusive das mineradoras.

Uma notinha no Painel da Folha, em 11 de dezembro, revelou que “nas semanas que antecederam sua escolha para comandar o ministério, Ricardo Salles reuniu cartas de recomendação de representantes de vários setores empresariais para levar a Bolsonaro. Em nome do mercado imobiliário, o presidente do Secovi de São Paulo, Flavio Amary, disse que ele ‘desburocratizou processos’ e ‘promoveu a segurança jurídica’ em sua temporada como secretário do governo Alckmin (PSDB). A Sociedade Rural Brasileira disse a Bolsonaro que Salles ‘conciliou os interesses do produtor rural pelo aumento da produtividade com as questões ambientais de forma objetiva, sem ideologias e priorizando o respeito às leis e às instituições’”. É um típico capacho!

*Altamiro Borges é jornalista e presidente do Centro de Estuos de Mídia Barão de Itararé.

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